sábado, 26 de fevereiro de 2011

DO BOM E DO MELHOR - Leila Ferreira


Estamos obcecados com o melhor. Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do melhor.
Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor
vinho.
O bom, não basta.
O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com o melhor.
Isso até que outro melhor apareça - e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer.
Novas marcas surgem a todo instante. Novas possibilidades também. E o
que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que
podemos ter.
O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver
inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno
desassossego. Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque
estamos de olho no que falta conquistar ou ter. Cada comercial na TV
nos convence de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que
lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros...) estão vivendo
melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários.
Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com
o melhor tênis.
Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas
o menos, às vezes, é mais do que suficiente.
Se não dirijo a 140 km, preciso realmente de um carro com tanta potência?
Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e
assumir o cargo de chefia que vai  me matar de estresse porque é o
melhor cargo da empresa?
E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do
meu quarto? O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou
porque tem o melhor chef?
Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora
existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro
tem mesmo que ser trocado pelo melhor cabeleireiro?
Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedindo de desfrutar o bom que já temos. A casa que é pequena, mas nos acolhe.
O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV que
está velha, mas nunca deu defeito. O homem que tem defeitos (como
nós), mas nos faz mais felizes do que os homens perfeitos. As férias
que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar a
chance de estar perto de quem amo. O rosto que já não é jovem, mas
carrega as marcas das histórias que me constituem. O corpo que já não
é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.
Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso? Ou será que isso
já é o melhor e na busca do melhor a gente nem percebeu?

2 comentários:

  1. Ola!! adorei o seu post!! também tenho implicância com essa mania das pessoas de terem como objetivo, o melhor!! mas muitas das vezes as pergutas surgem: melhor pra quem? e porque? será que a "melhor" roupa é a mais confortável? ou melhor adequada ao seu rendimento ou suas atividades?. Sou guerreira, mas não me vejo sendo tão ambiciosa a esse ponto. Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Oi anônima, obrigada pela visita e comentário no meu blog, volte sempre que puder, abs.

    ResponderExcluir

Obrigada por deixar o seu jeito.