sábado, 30 de abril de 2011

domingo, 24 de abril de 2011

JUNTO NA VIA - CRÚCIS - Déa Januzzi

Ela fez a via-crúcis durante toda a semana santa. Jejuou de toda a violência vista e não vista. Perdoou-se por não saber o que fazer diante de tantos poréns que impedem cada um de viver momentos mais felizes.

Pensou em se ajoelhar diante do altar da sua janela, lá em cima do Bairro da Serra, que revela uma cidade crucificada entre prédios, carros e mais edifícios em construção, que ferem o corpo urbano. Do alto ela viu a via-crúcis das mulheres da comunidade ao lado, que têm que enfrentar seus dias subindo e descendo o morro carregadas de compras e de crianças.

Jejuou pelas suas inúmeras perdas, pelas ilusões que alimentou durante tanto tempo. Fez jejum por todas as mães que até hoje sentem as dores do parto, mesmo depois do nascimento dos filhos. Pelas mães que ainda sentem as contrações de um novo mundo, mas ainda não conhecem o rosto da criança que virá para redimir os homens.

Ela jejuou pelos justos e injustos. Pelos humilhados e ofendidos, pela fome de viver dos velhos, pela ânsia de conquistar dos jovens. Ela fez novena, o nome do padre, o sinal da cruz, acompanhou a procissão dos incrédulos, acreditou no amanhã que já se avista do alto dos nossos sonhos. Renunciou a tudo que não lhe faz bem mais. Jejuou a favor dos insanos que ainda constroem usinas nucleares no lugar de plantar girassóis nos beirais das janelas.

Mesmo se alimentando todos os dias, mesmo comendo carne um dia ou outro, ela continua com fome de boas notícias, com sede de mudanças. Lê Cecília Meirelles enquanto espera a Páscoa: “Tu tens um medo. Acabar. Não vês que acabas todo dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno...”, ela vai recitando, e a cadela Frida a segue como uma sombra por toda a casa, até que amanhece o dia – e ela tem vontade de celebrar o domingo da ressurreição.

Tem vontade de ressurgir na alegria, no almoço de família que já não une mais pais e irmãos, nos ovos de Páscoa que as crianças abrem antes de domingo, pois o ritual dos avós se esvaiu na fumaça da eternidade. Ressurgir depois de todos os tropeços dessa via-crúcis eterna. Dos tombos pelo caminho, desse suor que escorre sem que nenhum pedaço de pano enxugue o rosto dos crucificados.

Se ela está entristecida? Não, porque cosmicamente as energias espirituais estão favorecidas neste domingo de Páscoa, oferecendo a dádiva de renascer, de ressurgir entre os mortos, de vivificar, de dividir as sombras com a luz, de compartilhar o pão e o vinho. De erguer a hóstia sagrada da renovação e deixar o ontem definitivamente para trás..

Não, ela não está triste. Ela deseja que cada um encontre seus ovos de Páscoa no meio do jardim que acabou de florescer. Ela deseja momentos tão perfeitos como os do pôr do sol que nunca se repetem. Deseja um banho de cachoeira para descarregar o peso da via-crúcis. Deseja que a mesa do almoço esteja farta em todas as casas, com um cardápio caprichado, mesmo que só haja o mesmo arroz com feijão de todo dia.

Deseja que mesmo assim haja flores no jardim, para colher e enfeitar a escuridão da miséria. Deseja que as crianças encantem com os olhos todos os seres deste planeta e que possam inventar uma nova forma de viver. Deseja que as feridas tenham cicatrizado neste dia depois do bálsamo da ressurreição, que haja promessas de uma vida nova, mais simples e verdadeira, com uma rede na varanda e o horizonte mais perto de cada um. Deseja que haja uma fogueira sempre acesa em cada esquina do coração. E uma imensa Lua para enfeitiçar o caminho. Estrelas em profusão para quando a noite descer como um manto.

Ela deseja que a família sobreviva às mágoas, às raivas, à competição, à mesmice e ressurja em novas configurações do afeto: que pais não fujam dos filhos, que mães deixem os filhos voar, irmãos abracem irmãos, sobrinhos se curem das feridas ancestrais, avós encontrem um lugar no coração dos netos. Nesta Páscoa, desejo que todos sejam convidados para a ceia do encontro. Que pelo menos neste dia todos possam compartilhar a boa-nova. Ela deseja a união, mesmo que o pai esteja na África, o filho em Machupicchu e que ela não saia do mesmo lugar. Ela deseja, neste domingo, que todos se encontrem em algum lugar secreto da alma.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

MUITO ALÉM DA PORTA - Içami Tiba

Se você encontrar uma porta à sua frente, poderá abri-la ou não.

Se você abrir a porta, poderá ou não entrar em uma nova sala.


Para entrar, você vai ter que vencer a dúvida, o titubeio ou o medo.


Se você venceu, você deu um grande passo: nesta sala vive-se.


Mas também tem um preço:


são inúmeras as outras portas que você descobre.


O grande segredo é saber quando e qual a porta deve ser aberta.


A vida não é rigorosa: ela propicia erros e acertos.


Os erros podem ser transformados em acertos,


quando, com eles, se aprende.


Não existe a segurança do acerto eterno.


A vida é generosa:


a cada sala em que se vive, descobre-se outras tantas portas.


a vida enriquece a quem se arrisca a abrir novas portas.


Ela privilegia quem descobre seus segredos,


e generosamente oferece afortunadas portas.


Mas a vida também pode ser dura e severa:


se você não ultrapassar a porta,


terá sempre a mesma porta pela sua frente.


É a repetição perante a criação.


É a monotonia cromática perante o arco-íris.


É a estagnação da vida.


Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens

domingo, 17 de abril de 2011

GOSTEI E COMPREI

Assim como você, o Cebolinha e o Cascão cresceram e passaram a ver as gatinhas do Bairro do Limoeiro com outros olhos. Mas, quando o corpo muda de repente, é supernormal ficar com dúvidas sobre ereção, sexualidade e – claro! – o funcionamento do corpo das garotas.

Como se fosse uma conversa entre grandes amigos, aqui você vai encontrar informações seguras sobre saúde, higiene íntima, comportamento e relacionamento, pra ficar com a autoestima lá em cima e saber como se relacionar bem com a turma, seja na escola, no celular, na internet ou na casa de amigos. Pra garantir o clima, o projeto gráfico é moderno e dinâmico, com ilustrações incríveis em estilo mangá. Tudo a ver com a Turma da Mônica Jovem!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

DÊ UMA PAUSA - Experimente




donothingfor2minutes.com





Fonte:  Vida Simples/ abril 2011

ADORO - Bichinhos de Jardim



Fonte: http://bichinhosdejardim.com/

CANTÁ - Gildes Bezerra



Cantá seja lá cumu fô
Si a dô fô mais grandi que o peito
Cantá bem mais forte qui a dô

Cantá pru mor da aligria
Tomém pru mor da tristeza
Cantano é qui a natureza
Insina os ome a cantá

Cantá sintino sodade
Qui dexa as marca di verga
Di arguém qui os óio num vê
I o coração inda inxerga

Cantá coieno as coieta
Ou qui nem bigorna no maio
Qui canto bão de iscuitá
É o som da minhã di trabaio

Cantá cumu quem dinuncia
A pió injustiça da vida:
A fomi i as panela vazia
Nus lá qui num tem mais cumida

Cantá nossa vida i a roça
Nas quar germina as semente
As qui dão fruto na terra
I as qui dão fruto na gente

Cantá as caboca cum jeito
Cum viola i catiguria
Si elas cantá nu seu peito
Num tem cantá qui alivia

Cantá pru mor dispertá
U amô qui bati i consola
Pontiano dento da gente
Um coração di viola

Cantá cum muntos amigos
Qui a vida canta mió
É im bando qui os passarim
Cantano disperta o só

Cantá, cantá sempri mais:
Di tardi, di noiti i di dia
Cantá, cantá qui a páiz
Carece di mais cantoria

Cantá seja lá cumu fô
Si a dô fô mais grandi qui o peito
Cantá bem mais forti qui a dô

VINCENZO PASTORE - Na Rua

"Na Rua mostra um outro lado da cidade de São Paulo, a partir do registro do fotógrafo italiano, radicado no Brasil desde 1894, de cenas cotidianas da cidade no início do século XX. Vincenzo Pastore busca na casualidade expor os problemas e desafios de uma cidade em formação.  O grande legado do trabalho do fotografo foi ressaltar problemas sociais em uma época em que se evidenciavam as belezas da belle-époque. Pastore trouxe aos olhos da sociedade, uma São Paulo que até então ficava reclusa nos cortiços, na periferia".


domingo, 3 de abril de 2011

EXERCITE O DESAPEGO - Déa Januzzi


A mãe sempre se considerou livre, sem apego a bens materiais. Doava tudo, desde lápis, caneta, isqueiro, brincos, pulseiras, bolsas, roupas, sapatos, até móveis e eletrodomésticos a cada vez que mudava de casa e de endereço. Olha que nada caiu do céu para ela. Teve que batalhar e trabalhar para comprar todas os seus pertences. Se tivesse ficado com tudo o que foi acumulando ao longo do tempo, hoje teria que morar num apartamento de 350 metros quadrados, para caber um monte de antiguidades e quinquilharias. A mãe aprendeu com a física que um espaço de 50 metros quadrados é suficiente para caber suas tralhas e sonhos, mas que se ela mudar-se para um de 120 metros quadrados, com o tempo vai ocupá-lo totalmente. A gente vai crescendo e acumulando objetos de acordo com o espaço disponível.

Muito antes da prática tão pregada no mundo de hoje de doar para desvencilhar-se do passado e de energias negativas que ficam impregnadas nas paredes da casa, ela já fazia a própria faxina. Nunca gostou de juntar, seja roupas, bijuterias, imóveis ou joias. Não gosta de colecionar nada. Nem tampinhas, nem corujas, sapos, taças, porcelanas, figurinhas. Mas tem em casa o canto das rolhas de vinho que pretende um dia reciclá-las, para que ocupem lugar de destaque, pois, afinal, ela gosta de tomar vinho e as rolhas de cortiça estão prestes a desaparecer para dar lugar às sintéticas. Para ela, vinho com rolha sintética não tem nenhuma nobreza. Tomar vinho tem lá seu ritual e reciclar rolhas nunca foi tão moderno.

Muito antes da moda de limpar gavetas para ter uma casa saudável, a mãe já gostava de jogar fora tudo o que não usava mais. Detesta panelas com alças quebradas, com tampas gastas, torneiras pingando. Mesmo morando de aluguel, gosta dos apartamentos bem limpos, com a sua cara. Atualmente, sofre com as goteiras que pingam sem parar no imóvel em que mora. Não tem energia mais negativa do que mofo nos cantos das paredes por causa das goteiras. Faça sol ou chuva, a desejada cobertura da Rua Salutares apresenta defeitos que impedem a moradora de ser feliz lá dentro.

Antes da tão abençoada casa com as cores do feng shui, ela já amava detalhes coloridos nos lugares certos, sinos dos anjos mensageiros, cristais, incensos, mas tudo à sua moda, sem imposição de ninguém nem de nada.

A mãe se considerava uma pessoa desapegada, até que o filho voltou de uma longa viagem. A mochila de 50 quilos ainda estava cheia, mas com pedras vulcânicas e abençoadas pela cultura dos índios chilenos mapuches. Ao abrir a mochila, a surpresa: “Olha, mãe, eu te disse que estava levando roupa demais, então, dei camisas, calças, tênis, tudo o que estava pesando demais”.

Assustada, a mãe pensou nas camisas e tênis comprados com tanto carinho. “Cadê a máquina fotográfica?” – pergunta a mãe. Ele responde que deu para alguém que estava precisando mais do que ele, que tinha tirado todas as fotos e que a máquina era velha. Cadê a camisa transada que o Carlos Ferrer, da Nobres Pecadores, deu de presente? O filho responde que a camisa fez tanto sucesso por lá que ele não podia deixar de oferecer para a pessoa. Cadê o sapato tal? Ah, mãe, só tenho dois pés para que tantos pares de sapato? Exercite o desapego, mãe!

Perplexa, a mãe silenciou porque o exemplo vinha dela mesma. Quantas vezes já não retirou o anel do dedo, porque alguém elogiara? Quantas vezes distribuiu objetos praticamente novos porque tinha que mudar de casa? Por que iria cobrar do filho por ter a mesma postura?

Depois de um tempo, ela mesma teve a resposta. De tanto desprezar o dinheiro e as coisas materiais ficou praticamente de mãos vazias. Teve que aprender sofrendo que, muitas vezes, o dinheiro que vem do trabalho é abençoado e não pode ser jogado fora ou rejeitado, que tem de saber dar para pessoa certa na hora certa e que não pode ficar doando coisas sem a pessoa pedir.

Com o tempo, a mãe aprendeu que há uma troca solidária e universal, que nada vem de graça e que o universo conspira a favor em certos momentos, mas em outros pode mudar de direção. Com o tempo, a mãe aprendeu que nada é tão fácil que se pode jogar fora. E que nem por isso as pessoas são egoístas e insanas.

A mãe aprendeu que é preciso agradecer pelas bênçãos de cada dia e reservar o melhor da gente para viver bem o dia de hoje. A mãe aprendeu que nem tudo cai do céu. E se cair é preciso saber colher com temperança. Mas ela sabe que o filho também terá tempo de aprender. A mãe, então, ri de si mesma e do filho que ainda é jovem para esbanjar vitalidade, energia e depois juntar tudo de novo, porque a vida é mesmo um mistério a ser desvendado. A mãe ri sozinha, porque o maior exercício que está praticando hoje, diariamente e com capricho, é se desapegar do filho, para que ele possa ter vida própria.